Este conteúdo é uma contribuição de Reinaldo Donadio, Diretor de Inovação da Endeavor Brasil
Veja 9 paradoxos da inovação nas empresas e como gerenciá-los para prosperar em um mercado não linear e muitas vezes incompreensível.
A pergunta que não quer calar é: por que as empresas falham ao inovar? Na minha visão, a melhor maneira de explicar isso é através de alguns exemplos.
Entre 1990 e 2000, a Nokia dominava o mercado de celulares e achava que isso era suficiente. Com o passar dos anos, não atualizou seu sistema operacional para facilitar o desenvolvimento de aplicativos e também não deu atenção para as mudanças que a Apple – empresa que soube se reinventar e conquistar mercado – trazia.
Em 2007, a Blackberry possuía 50% do mercado de celulares nos Estados Unidos. Por causa da sua posição consolidada, não evoluiu sua tecnologia de segurança para troca de e-mails e também não acompanhou as novidades apresentadas no lançamento do iPhone.
Particularmente, acredito que são exemplos de como não ser um varejista no século 21. As duas empresas superestimaram o produto que possuíam e subestimaram a entrada de novas tecnologias, não alocando recursos para garantir ou expandir o que já existia.
Quando falamos de inovação, não falamos sobre certezas.
Não é possível saber, de primeira, qual iniciativa terá sucesso. A indústria de Venture Capital investe em um portfólio de ideias porque sabe que, provavelmente, só uma delas vai dar certo.
A imagem abaixo exemplifica isso. De acordo com Alexander Osterwalder, a cada 250 investimentos em inovação, 162 falham, 87 alcançam algum nível de sucesso, porém só 1 negócio atinge o objetivo planejado inicialmente.
Como ter mais assertividade na inovação?
Recentemente, em um workshop realizado para empresas parceiras de Inovação Aberta da Endeavor, o Mentor Daniel Castello definiu a transformação digital como “uma resposta à disrupção causada, principalmente, por novas empresas que configuraram mercados a partir das opções de tecnologia que foram oferecidas a elas”.
Essa definição está conectada com o que acreditamos aqui na Endeavor: a disrupção é liderada pelas scale-ups. Por causa do seu modelo de negócio que cresce aceleradamente, essas empresas são inovadoras por natureza.
Então, as grandes empresas precisam inovar como scale-ups. E isso significa que:
- As pessoas que trabalham nas empresas precisam se enxergar como intraempreendedoras. Ou seja, colaboradoras e colaboradores que buscam, criam e implementam ideias, possuem capacidade diferenciada de analisar cenários e de encontrar oportunidades.
- As lideranças precisam apoiar as iniciativas de inovação dentro da empresa. A área de inovação não consegue, sozinha, convencer a empresa inteira sobre a importância de inovar e explorar novos negócios.
- Às vezes os testes não dão certo e os resultados não são tão rápidos. Quebrar uma cultura que abomina o erro e criar a consciência de que o processo de inovação é composto por testes e falhas, é premissa para o sucesso das iniciativas.
Essas premissas reafirmam que, sem transformação cultural, não há inovação. Depois disso, as grandes empresas devem entender que, ao inovar, elas estarão lidando com diferentes paradoxos todos os dias. O que isso quer dizer? Explico em nove exemplos.
Os nove paradoxos da inovação
1. Inovação e excelência operacional
Em uma grande empresa, a inovação é feita enquanto a operação acontece – com excelência – no dia a dia. É preciso manter a roda girando enquanto o time de inovação explora novas oportunidades para que a empresa continue relevante no futuro.
2. Criar novos negócios, produtos e serviços e gerenciar o core business
Gerenciar novos produtos e gerenciar o core business são coisas completamente diferentes – e simultâneas. Nesse cenário, a liderança precisa saber administrar uma startup e uma empresa estabelecida ao mesmo tempo.
Nesse sentido, precisam entender os números de um P&L – Demonstrativo de Lucros e Perdas -, do balanço patrimonial e também revisar hipóteses, MVPs – Produtos Mínimos Viáveis – e dados de experimentos com clientes.
3. Estratégia deliberada e estratégia emergente
As grandes empresas desenvolvem a estratégia de forma deliberada e de cima para baixo – a liderança define a estratégia e os times executam. Porém, para inovar com sucesso, as empresas precisam usar uma combinação de estratégia deliberada, baseada na visão, e estratégia emergente, baseada no aprendizado do mercado.
Ao inovar, o time estará testando constantemente seus produtos e modelo de negócio com os clientes. Os resultados desses experimentos fornecem um refinamento contínuo do que está sendo desenvolvido. No entanto, essas lições também devem refinar a estratégia da empresa.
4. Decisões descentralizadas e maior transparência
Para não sufocar a inovação, funcionários mais próximos dos clientes precisam tomar decisões e informar executivas e executivos sobre o que funciona ou não. Nesse contexto, a visibilidade da tomada de decisão é importante para ajudar a criar confiança e oferecer o que o cliente realmente precisa.
5. Uma única empresa e não um único modelo de negócios
Para inovar, as grandes empresas precisam parar de pensar e agir como se fossem organizações monolíticas, com modelo de negócios único. Isso faz a empresa ser menos adaptável em um contexto de constante mudança.
A complexidade de gerenciar vários modelos de negócios em diferentes fases é tarefa de todo CEO.
6. Falhe rápido e gere lucros
Toda empresa quer gerar lucros. Mas, para inovar, é preciso abraçar o fracasso. Isso significa que, muitas vezes, a inovação pode ter custos em recursos financeiros, físicos e humanos.
Então, como uma empresa pode falhar e lucrar ao mesmo tempo? Falhar não é o objetivo final. O objetivo é usar o fracasso para aprender rápido.
No final, a empresa está aprendendo as melhores maneiras de ganhar dinheiro com soluções melhores.
7. Impaciente pelos lucros e paciente pelo crescimento
Muitas vezes, as grandes empresas já operam em grande escala. Por isso, existe uma tendência de querer escalar novas soluções o mais rápido possível. Esse dimensionamento prematuro é um dos principais motivos do fracasso da inovação.
Clayton Christensen sempre provocou os líderes a serem pacientes quando se trata de novas soluções.
Nenhuma nova solução deve escalar até que seu modelo de negócios tenha sido validado. Depois de sabermos que o modelo de negócios é lucrativo e sustentável, ele estará pronto para crescer.
8. Recursos disponíveis e soluções que ninguém quer
Antes mesmo de considerar os recursos disponíveis para investir em uma nova solução, é preciso testar o product market fit e entender se as pessoas precisam do que será oferecido.
9. 50% gestão e 50% inovação
Empresas inovadoras são aquelas em que a inovação tem prioridade. Geralmente, a liderança deve gastar mais de 50% de seu tempo com inovação.
Inovação não existe em segundo plano.
Antes de qualquer coisa, as lideranças precisam entender que a inovação precisa ser fomentada – é como adubar um terreno e preparar o solo para que as ideias possam surgir, crescer e dar frutos.
Assim, com o terreno preparado para novas ideias e líderes com clareza de como evitar todos os paradoxos da inovação, é bem provável que suas empresas não sejam as próximas Nokias ou Blackberrys, mas sim, as novas Apples.
Imagens Freepik/Endeavor